segunda-feira, 3 de março de 2008

Quão perto você deixa alguém se aproximar?

Tem um ditado que diz "se olhar de perto, vê-se que ninguém é normal". A questão é: quão perto você deixa alguém se aproximar e ver sua verdadeira natureza? Revendo esses dias o filme "Closer - perto demais" comecei a me questionar sobre a razão que move a pessoas em sua busca por amor e carinho e sobre o quanto cada um está disposto a revelar de si próprio para quem se aproxima.


Imagem conseguida no site IMDB.com


Assisti a este filme em Vila Velha, e, na época disse, "é fácil de perceber que este filme não é americano". E ainda hoje mantenho minha opinião. Os ingleses parecem ter uma sensibilidade maior para tratar de relações humanas em seus filmes. Desde que assisti "Quatro Casamentos e um Funeral" e "Para o Resto de Nossas Vidas", me tornei fã dos filmes britânicos. Ambos foram comédias que discutiam relacionamentos sem cair na fórmula maniqueísta da grande maioria dos filmes americanos que mostram personagens rasos e previsíveis. Não é a toa que no filme de Mike Nichols as duas personagens femininas são americanas, mostrando em contraposição que a 'mulher bem sucedida e solitária' e a 'menina misteriosa e sedutora' são mais complexas quando vistas 'mais de perto'. O interessante do filme é apresentar uma história que não é 'mastigada' ou previsível, por mais que possamos adivinhar o que vai acontecer com os personagens durante a trama, isso soa como algo natural pelo desenrolar da história e não como clichê.

"Closer - Perto demais" não conta algo inovador, não inventa um tema novo nem cria debates sobre fidelidade, companheirismo e paixão. O mérito do filme é nos mostrar pessoas "reais" envolvidos em situações reais. Vai ser difícil encontrar pessoas que não se identifiquem com a história (ou que nunca tenham dito nenhuma daquelas frases declamadas pelos personagens, ou outras tantas que são ditas diariamente e que servem como fermento das relações a dois). O filme não se propõe a ser um estudo sobre o íntimo de seus personagens e, no entanto, é tão sincero ao mostrar como um relacionamento pode ser afetado por determinadas situações que é como se conhecessemos cada sonho, cada pensamento de cada um dos personagens baseado apenas em suas reações ante tais situações.

O elenco está afinadíssimo: Clive Owen é o homem moderno, estudado mas que mantém sua essência ancestral de predador. Chega ao ponto de ser egoísta e narcisista, dando a impressão de ser rude e cruel. Abalado por suas paixões, ele personifica o chamado "homem retro-sexual" sedutor e canalha, mas que demonstra uma sensibilidade (a sua maneira, é claro!) quando sua vida é atravessada por mulheres que despertem nele uma auto-compaixão e a necessidade de estar com alguém. No outro lado da moeda, está Jude Law: o homem sensível, que quer sempre saber tudo que se passa mas que ignora a realidade em favor de seus desejos. Hedonista, emocionalmente imaturo mas ainda assim, guerreiro e ousado. Ele luta pelo que quer, mas chora ao perder. Não consegue entender o que se passa e nem consegue manter-se em uma relação mais duradoura pois quando algo o incomoda ele perde a noção de si próprio e entra em uma paranóia que acaba detonando tudo o que construiu.

Imagem conseguida no site IMDB.com


No time feminindo temos Julia Roberts como uma mulher independente, mas que não encontrou a realização afetiva e se envolve com homens em busca de entender a si própria e como forma de preencher a solidão que a atormenta após as horas de trabalho. É emocionalmente frágil e não consegue decidir qual a melhor opção a seguir, pois sente a brutal necessidade de estar com alguém. Já Natalie Portman é a mulher moderna, independente e que não se apega. Ela faz o tipo que se apaixona e depois é capaz de sumir com um estalar de dedos. Mas no fundo é uma menina em busca de si própria e que deixa de gostar de alguém com a mesma facilidade com que se apaixona, porém não pára de buscar sua felicidade. Quando confrontada com o lado ruim de suas paixões, ela se desliga e some em busca de um novo amor, de uma nova vida, de uma nova razão para amar...

Mesmo com essas definições, cada uma destas pessoas é mais complexa do que aparenta. Elas nunca se revelam por completo e nem sempre seus olhos mostram exatamente o que suas bocas estão dizendo. Há algo escondido nos olhares perdidos, nos gestos subentendidos, nas frases às vezes vãs. E quanto mais nos aproximamos deles, vemos novas nuances e surpresas mostrando a complexidade que envolve os sentimentos humanos. São personagens que, em sua essência, são complementares uns aos outros. Acreditam que comandam suas vidas quando, no entanto, estão se deixando levar pelas situações e tendo seus destinos decididos através das decisões alheias. "Closer - perto demais" não é um filme que vai agradar a todas as audiências, mas que vai deixar todos pensando sobre sua história, independente de terem gostado ou não do filme.

Finalizo com uma das 'tag lines' que foram utilizadas para o cartaz do filme: "If you believe in love at first sight, you never stop looking" ("Se você acredita em amor a primeira vista, você nunca pára de procurar" - tradução livre).

Um comentário:

Daniel Miyagi disse...

Estou sem internet, e tb trocando de conexão, alem daqueles problemas práticos que leu no meu blog. Bom...antes de mais nada, fico muito feliz por ter me dito da volta do seu blog. Eu tinha ate excluido, rs. Quando voltar a conexao em casa adiciono novamente. Voltou com uma paginacao nova nao? Se soubesse o carinho que sinto por vc e outras aih de Brasilia....
Assisti acho que ano retrasado aqui no Japao o filme. Primeiro em dvd, depois na telona o que foi horrivel porque sei alguma coisa japones, mas nao sei ler e a legenda, obvio em japones. Sorte que ja tinha assistido. Um filme duro, pesado, com uma brilhante direcao pois todos os atores estao bem. Ate o Judy Law que para mim era apenas bonito... mas provou nesse trabalho o talento..
Putz to contente mesmo pela volta ao blog... parabens!