sexta-feira, 11 de abril de 2008

Post Scriptum ou simplesmente, P.S.

Há um bom tempo atrás, quando ainda não existia a maravilhosa tecnologia de envio de mensagens digitais, o comum era escrever a mão cartas ou, em alguns casos, datilografá-las. Em muitas ocasiões, após assinar a missiva (uia, que chique! falei difícil) algumas pessoas lembravam que ainda precisavam dizer algo importante. E para isso acrescentavam ao final da carta mais um texto. Esse texto é chamado de 'pós-escrito' ou em latim "post scriptum", de onde originou-se a sigla P.S. Em épocas digitais, o uso do P.S. é algo enfático ou, em algumas mensagens, cômico. Tenho amigos que faziam 'concursos' para ver quem escrevia mais P.S.'s ao final dos e-mails. Independente da razão, ver um P.S. ao final de uma mensagem nos chama a atenção para algo.

O que dizer então de um texto finalizado com "P.S. Eu te amo"? Será que foi enfático? Será que foi por que a pessoa esqueceu de mencionar isso anteriormente na mensagem? Ou simplesmente a pessoa colocou esse texto ali para encerrar sua mensagem e fazer suspirar a pessoa que a recebeu? Em qualquer dos casos, ler um "P.S. Eu te amo" ao final de uma mensagem faz sorrir até mesmo as pessoas mais carrancudas, mesmo que seja um sorriso discretíssimo, quase interno.


Imagem conseguida no site IMDB.com


É com a tônica de nos fazer suspirar que o filme, "P.S. Eu te amo" chegou aos cinemas no ano passado. A hitória é fantástica, bonita e emociona e nos faz rir. O filme mistura drama, romance e comédia nas doses certas. E envolve o público, nos cativando e nos fazendo esperar ansiosamente pela leitura das próximas cartas. Cartas essas que vão conduzir a vida de Holly Kennedy (Hillary Swank, duplamente oscarizada por "Meninos não choram" e "Menina de Ouro") após o falecimento precoce de seu marido Gerry (interpretado por Gerard Butler de "300", "O Fantasma da Ópera"). Sem estragar a supresas do filme, mas Gerry já sabendo de seu estado terminal, deixou algumas cartas escritas para Holly, cartas essas que tem a finalidade de ajudá-la a superar sua morte. É como a frase da música "Love in The Afternoon" de Renato Russo: "Eu aprendi a ter tudo que sempre quis, só não aprendi a perder". Quando não temos mais alguma coisa, dificilmente sabemos lidar bem com isso. E é essa a jornada de Holly: reaprender a viver.

Entre flashbacks precisos, tentativas de superação, noites em claro chorando pelo amor perdido, situações cômicas, e a expectativa pelas cartas de Gerry, Holly vai tentando reconstruir sua vida com a ajuda de suas amigas Denise (Lisa Kudrow, a Phoebe do seriado "Friends") e Sharon (Gina Gershon de "Show Girls" e "A Outra Face"). Além delas, acompanham Holly nesse momento difícil sua mãe Patricia (interpretada pela sempre ótima Kathy Bates - de "Louca Obsessão" e "Titanic"), o garçom Daniel (Harry Connick Jr, de "Copycat" e "Independence Day") e o músico William (Jeffrey Dean Morgan do seriado "Supernatural" e que está na aguardada adaptação da história em quadrinhos "Watchmen"). O filme é dirigido e roteirizado por Richard LaGravenese (roteirista de "As pontes de Madison" com Meryl Streep, "O Espelho tem duas faces" com Barbra Streisand e Jeff Bridges e "O encantador de cavalos" com Robert Redford e Kristin Scott Thomas). A trilha sonora é deliciosa, com destaque para a música "Love you 'till the end" do grupo Pogues.

Enfim, "P.S. Eu te amo" é um filme sobre relacionamentos, sobre vida e sobre o que fazemos quando somos confrontados pela perda. Não é um filme que vai mudar o mundo, mas que com certeza vai fazer com que quem o assista fique com um sorriso bobo ao final do filme, imaginando que ainda vale a pena viver e amar. Falar mais além disso é estragar as surpresas do filme, porque, afinal, às vezes só há mais alguma coisa a ser dita: P.S. Eu te amo.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Nada além do dia de hoje

Depois de duas semanas sem postar, quero falar de um filme que é uma celebração à vida. Passei por uns maus bocados há uns dias e ainda estou um pouco abalado com a situação, mas há coisas que acontecem para nos fazer perceber o quanto é bom estarmos vivos. E eu amo estar vivo! Vamos ao filme...

Um grupo de moradores prestes a ser despejados de seus apartamentos. Um ex-morador, agora casado com a filha de um rico empresário, comanda a 'derrocada' do local e o início da construção de um projeto gigantesco que derrubará os prédios. Um bando de artistas jovens, perdidos em suas inspirações e anseios enquanto tentam arrumar dinheiro para pagar o aluguel. No ápice disso, as relações entre um grupo de pessoas ligadas pela amizade e pelo amor à arte independente e à boemia. Alerta para a epidemia de AIDS que estava alcançando seu auge. Junte todos esses ingredientes e você tem um dos filmes mais bacanas de 2005.


Imagem conseguida no site IMDB.com


"RENT - Os boêmios" é baseado num musical de teatro e mostra luta pelo amor, pela vida sem preconceitos, por ideais de juventude, pelo prazer de se estar vivo, para sobreviver, para pagar o aluguel e as contas. Misturando comédia e drama em doses iguais, "RENT" tem o mérito de fazer uma apologia ao lema "viva intensamente" mas sem fazer discursos demagogos ou cheios de idéias pré-concebidas, mostrando um lado consciente das consequências dessa fome de viver: falta de dinheiro para realizar sonhos, frio, fome, fácil exposição a vícios que podem sair do controle e o risco de contrair doenças, como a AIDS. E mesmo mostrando isso, "RENT" não cai no discurso moralista, nem "politicamente correto". O roteiro não condena seus personagens por terem vivido ou por serem que são. Mas também não diz que as atitudes deles são as certas. O filme mostra pessoas, não heróis, nem modelos a serem seguidos. A mensagem do filme é clara e simples: viva com amor. Ame a vida! A música de abertura é incisiva nesse aspecto: "como se mede um ano? Em amanheceres, em pores-do-sol, em meia-noites, em copos de café, em polegadas, em milhas, em risadas, em 525 600 minutos... Que tal medir em AMOR? Estações de Amor". E mesmo sendo um filme que também fala sobre sexualidade não há nudez, nem cenas de sexo, e ainda assim entendemos que os personagens têm desejos, sofrem, amam, e precisam ser amados. Amor sem barreiras de sexualidade, sem preconceitos, sem medo de ser mostrado.

A história começa na véspera de Natal de 1989 e acompanha um ano na vida de Mark, Roger, Mimi, Collins, Angel, Maureen e Joanne. Amigos que dividem os anseios da vida adulta, que se viram como podem para sobreviver em um mundo que os condena. Amigos que querem amar e viver intensamente, mas esbarram em relacionamentos complicados, ciúmes, drogas, AIDS e a constante ameaça de serem despejados, e, ainda assim, em suas vidas há espaço para tudo e todos, inclusive para celebrar "la vie bohéme" cantada e alto e bom som numa das cenas mais contagiantes do musical.


Imagem conseguida no site IMDB.com


"RENT" é uma experiência fabulosa. A direção inspirada de Chris Columbus (fã assumido do musical) funciona perfeitamente bem com um elenco que tem uma química contagiante. Detalhe: o elenco conta com quase toda a 'trupe' do espetáculo original. Anthony Rapp que interpreta Mark vai guiando toda a história. Depois que sua namorada Maureen (Idina Menzel) o deixou para viver um romance com Joanne (Tracie Thoms), Mark fica em busca de uma inspiração mas sempre pronto a ajudar a ex no que for necessário. Mark divide apartamento com Roger (Adam Pascal) um ex-cantor de rock que luta para compor uma canção de sucesso enquanto lida com o fato de ser soropositivo e com o amor pela vizinha Mimi (Rosario Dawson). Essa por sua vez, é dançarina em uma boate e parte com tudo em busca do amor de Roger, pelo qual está muito apaixonada. Nesse intervalo, ao voltar para casa depois de passar um tempo vivendo em outro estado, Tom Collins (Jesse L. Martin) conhece Angel (Wilson Jermaine Heredia) que o socorre após um assalto e com isso eles acabam se apaixonando. Tom é amigo de Mark e Roger, e num passado não muito distante, dividiam apartamento com Benjamim (Taye Diggs) que após se casar com a filha de um rico empresário, assumiu a missão de retirar todos os moradores da área, para derrubar os prédios e montar um complexo artístico, deixando todos os atuais moradores entregues à própria sorte. Entre protestos, amores, falta de dinheiro, esses personagens vivem suas vidas da melhor forma que conseguem, lutando para ser felizes.


"There's only now, there's only here
Give into love, or live in fear.
No other path, no other way. No day but today!
There's only us, there's only this,
Forget regret, Or life is your to miss,
No other road, No other way, No day but today!"


"Só existe o 'agora', só existe o 'aqui'
Se entregue ao amor ou viva com medo.
Não há outro caminho, não há outra maneira, não há outro dia a não ser o de hoje!
Só há o 'nós', só há o 'isto'
Esqueça o arrependimento ou sua vida será desperdiçada,
Não há outra estrada, não há outra maneira, não há outro dia a não ser o de hoje!"


Imagem conseguida no site IMDB.com