quarta-feira, 14 de março de 2007

Motoqueiro Fantasma - Vi, Sobrevivi, e Gostei

Conforme prometido, e com alguns dias de atraso, acabei assistindo o "Motoqueiro Fantasma" e, no geral, achei um filme bacana.

É engraçado dizer isso, mas o roteiro e as atuações não me cativaram. Então por que eu disse que é um filme bacana? Simples: porque eu não esperava nada do filme (a não ser em relação aos efeitos especiais) e até dei umas boas risadas. Ou seja, para mim o filme cumpriu o que prometeu: diversão descompromissada em suas quase duas horas de duração. Não é um filme que vai mudar o mundo, nem que vai se tornar um marco na história do cinema como referência para futuros filmes. Mas foi um filme divertido.


Imagem conseguida no site CinemaemCena.com.br

O roteiro é fraquísimo e parece já ter sido feito para virar um jogo de video-game da época do Master System: você tem a apresentação do personagem, depois o mesmo sai em busca de um "objetivo", enfrenta alguns comparsas do vilão (um em sequência do outro, claro!) e o vilão (ou, como chamávamos, Chefão). Fim de história. Com algumas variações, a grande maioria dos filmes de ação segue essa mesma fórmula. Infelizmente, o roteiro de Mark Steven Johnson não escapa disso. Sabendo como 'opera' a cabeça dos executivos de Hollywood, é até fácil de imaginar que o cara tivesse tido ótimas idéias, mas teve que seguir o padrão dos mandachuvas, afinal, "nossas crianças devem entender o que se passa e qualquer coisa diferente disso pode faze-las pensar e perceber que o mundo está além disso e, com isso, diminuir nosso domínio sobre a mente humana". Tudo bem, estou exagerando, mas vendo exemplos de roteiros como "As Loucas Aventuras de James West" e "Missão Impossível II" só tenho isso em mente. A regra parece ser absoluta: crie cenas de ação que se proponham a tirar o fôlego e inclua um fiapo de história para que façamos um filme. Observando bem, se substituir o herói por uma heroína e chamarmos de "Elektra", vamos estar vendo praticamente o mesmo filme (por "coincidência" é do mesmo diretor).

As atuações estão de acordo com o roteiro, ou seja, fraquinhas. Fiquei na dúvida sobre quem fez mais 'caras-e-bocas': se foi o Johnny Blaze de Nicholas Cage, se foi a Roxanne de Eva Mendes ou o "Wes Bentley e os Blackhearts" (não resisti fazer uma piadinha com a fantástica rockeira Joan Jett e sua banda "Joan Jett and the Black Hearts"). Eu esperava um pouco mais de Eva Mendes, e Nicholas Cage recita seus textos quase que mecanicamente. Mas pelo menos o visual dos dois está adequado aos personagens. Como eu tinha dito no primeiro post sobre o filme, a equipe de efeitos visuais caprichou nas chamas do infernal Motoqueiro e de sua moto 'tunada'. Já os vilões... O visual dos asseclas de Blackheart é risível: lentes de contato quase cinzentas, roupas pretas, visual 'trash-dirt' tão fácil que até a sujeira dos mesmos parece ter sido milimetricamente colocada na roupas... E as atuações dos mesmos? Tão fracas que a única justificativa para os mesmos no roteiro (além de seguir a fórmula video-game) é 'inflar' o orçamento com efeitos especiais. Wes Bentley, que se mostrou um bom ator em "Beleza Americana", foi fracamente aproveitado (e era para ser O VILÃO do filme). Já Peter Fonda, imprime um ar sóbrio a seu Mephistopheles (ou Mefisto, na tradução das legendas), nada que eu não esperasse do ator.

Uma coisa, no entanto, deve ser dita sobre o elenco: os jovens que interpretam Johnny Blaze e Roxanne quando adolescentes (Matt Long e Raquel Alessi, respectivamente) foram bem escalados. Além da semelhança física (bom trabalho de maquiagem, incluindo, no caso de Raquel Alessi uma 'pintinha' no canto do rosto similiar à de Eva Mendes) os mesmo mostraram um certo carisma, nas cenas que aparecem. Só não consegui entender porque Johnny Blaze envelheceu muito mais que Roxanne no mesmo período de tempo (talvez o pacto com o diabo incluísse uma cláusula sobre envelhecer mais rápido...)

Já que falei legendas ao citar a tradução para o nome do personagem Mephistopheles, me ocorreu que a galera que trabalha com traduções realmente merece ganhar muito bem, dadas as complicações que alguns filmes impõem, apesar de cometerem algumas gafes. Em alguns aspectos poderiam ter um cuidado maior com algumas legendas. Por exemplo, a palavra "Rider" em inglês é usada para designar a pessoa que está montada em alguma coisa (sem duplos sentidos...), ou seja, uma pessoa montada a cavalo, ou numa moto, é um "rider". Essa liberdade do verbo é trabalhada no filme, mas se perde numa tradução ingrata: em um dado momento vemos um personagem à cavalo e lemos na legenda que ele era um "motoqueiro fatasma" (ghost rider). Faltou um pouquinho de bom senso, pois, mesmo sabendo que o "Ghost Rider" do filme é um motoqueiro, não quer dizer que todo e qualquer "rider" na película devesse ser 'traduzido' da mesma forma. Quem conhece outros idiomas sabe: traduzir não é tarefa fácil e, em alguns casos, quase se vende a alma para conseguir traduzir um texto muito cheio de 'nuances escondidas'. Um exemplo de filme que a piada poderia morrer na legenda é "O Máskara". Na cena em que vemos o herói verde sendo perseguido pela polícia e se congelando no ar ao ouvir o policial gritar, em inglês, "Freeze!" ('Parado!' em português e "congele" no sentindo original), lemos na legenda "Fique frio!". Uma boa sacada do tradutor, já que para nós brasileiros, o sentido de "fique frio" é de "calma aí, sossegue, fique quieto...". Apesar de saber das dificuldades de se traduzir, nada, absolutamente NADA justifica o absurdo "SEGURA PEÃO!" na cena em que o Motoqueiro Fantasma lança suas correntes em um helicóptero.... Fala sério! Filmes como o 'Motoqueiro Fantasma', apesar de não ser nada inovadores, tem um estilo próprio de diálogos e colocar uma 'pérola' dessas é de fazer chorar qualquer bom cinéfilo (além de beirar o rídiculo e me lembrar de que em "Batman e Robin" o tradutor cometeu a besteira de incluir na legenda um "Ahhh... eu tô maluco" que fez com que uma grande parte da platéia vaiasse o filme - modismos não combinam com traduções).

E falando em estilo, Matrix fez um grande mal a Hollywood. Depois da saga eletrônica de Neo, todo filme que quer mostrar vilões, rebeldes ou heróis 'cool' apela para o já batido visual da roupa de couro preta, com sobretudos, capas, jaquetas e afins... Tá certo que o visual de Johnny Blaze transformado envolve no mínimo uma jaqueta de couro (ele é motoqueiro e essa é uma peça de roupa comum a quem tem o hábito de pilotar uma moto), mas daí a extender isso ao quarteto de 'esquisitões' que acompanham Blackheart e a esse próprio, é uma falta de criatividade grande da equipe responsável pelos figurinos. Não que eles tenham que trabalhar almejando um Oscar, mas também não precisa apelar para o 'lugar-comum'. O visual funcionou muito bem para Matrix, foi bem aproveitado em X-Men (com uma cena hilária justificando o proquê das roupas), mas, tá bom, né? Vamos inovar!

Continuando a falar sobre estilo, algo que me impressionou no filme foi a trilha sonora. A combinação 'rock-western' funcionou bem. Christopher Young, que criou a trilha sonora original, já havia criado trilhas para filmes com os mais diversos estilos ("Homem-Aranha 3", "O Grito 2", "O Exorcismo de Emily Rose", "Miss Simpatia 2", "O Juri", "Vida Bandida"...) e não decepciona, fazendo uma ótima mescla, por exemplo, com a músicas "Ghost Riders in the Sky" gravada pela banda Spiderbait. Aliás, o clima de faroeste permeia todo o filme. Até a tal 'cidade fantasma' mostrada no filme, é uma grande referência aos filmes de 'cowboy'.

Enfim, se levarmos em conta que estamos pagando por 'entretenimento', esses filme entretém, mesmo que seja por poucos momentos, mesmo que seja para sair do cinema falando mal dele, mas, pelo tempo em que estivemos ali, sentados assistindo (e aguntando adolescentes rídiculos se exibindo e casais que não param de conversar) nossas mentes esqueceram do trabalho, dos problemas em casa, do stress no trânsito. Assista o filme e tire suas próprias conclusões. Não sou crítico de cinema (nem almejo ser) mas, "Motoqueiro Fantasma" vale como diversão escapista.

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